11 novembro, 2010

duas malas e uma mochila

- Onde você mora?

Primeiro eu tentei falar que morava no Rio de Janeiro, Brasil. Depois eu pensei, morar eu não moro lá... Eu tenho meu quarto, vou de férias. Daí tentei falar que morava em um navio. Mas não tem um certo, sabe? Eu mudo de cinco em cinco meses, às vezes eu mudo mais e nunca voltei pro mesmo. Depois realizei então, que nem em um navio eu moro. O lugar mais fixo que eu tenho são as minhas duas malas... Minha vida toda se reduz ali. Ok, menti. Minhas duas malas e minha mochila, porque meu laptop tá nela. Portanto concluo: moro em duas malas e uma mochila.

Agora já sei o que colocar quando tiver que preencher uma ficha de informações pessoais. A proxima da lista é, profissão, o que complica bem mais.

03 novembro, 2010

Aos meus calhordas com amor.

Queridos,

venho por meio desta informar que a escola a que fui submetida durante esses 24 anos está, finalmente, fazendo resultados. Hoje me encontro, praticamente, tão cafajeste quanto qualquer um dos iluminados que passaram na minha vida e deixaram um lastro de pseudo tragédia.


Graças a vocês venho podando sentimentos, sendo gradativamente fria e solidamente mais egoísta.


Eternamente grata!


***


Hoje vendo "Bright Star" relembrei o que é paixonite desmesurada. E também me perguntei se vou conseguir ter isso de novo. Tive duas vezes. A primeira foi pureza, a segunda foi esperança.

Mas como uma frase do próprio filme: "Esperança e resultados são diferentes. Um não necessariamente cria o outro". E lógico que também da segunda vez foi decepcionante. Agora a possível terceira vez só me traz o sentimento de guerra constante. Uma guerra contra mim mesma e disso, meus caros, eu tô muito fora. Mas enfim, assistam o filme.




30 outubro, 2010

fora e dentro


Fez uma lista de tudo que queria mostrar, pra que talvez entendesse um pouco das coisas de lá, até um pouco da sua cabeça. Porque era nítida a diferença: ela se criou pra ser de fora, pra ser das coisas, dos objetos, das minúcias, dos detalhes endiabrados; ele não. Foi criado pra ele mesmo, praquela adoração constante do"admirar sendo", ela tinha muito pouco disso. E quer a explicação? Com certeza, foi o mundo ao redor. Aquele lugar chato, frio e igualitário era bem diferente do calor infernal, do crescimento vertical da bagunça na qual ela sempre viveu. Nesses dois ambientes, às vezes, criam-se loucos. Eram dois loucos. Ponto em comum e por isso se encontraram. Porém, dois tipos de loucos de diferentes. Ela o entendia em qualquer lugar, com qualquer pessoa, e mesmo que falasse em francês (porque é tudo latim). Agora, não era sempre que ele a entendia. Não entendia suas músicas, ou quando estava muito nervosa e não entendia as palavras que escapuliam pela boca durante o sono. Ele olhava, e sempre vai olhar, pra dentro. Ela olha e vai olhar pra fora, sempre também.

Agora a lista se encontra num caderninho vermelho, dentro das gaveta das coisas que poderiam ter sido e não foram por algum motivo. Ainda sim, sente falta daquela casa...

27 outubro, 2010

O que me faz falta do mundo de lá...

Ao entrar em vida de navio, entrei automaticamente na vida norte-americana. E sim, meu caros, é um besteirol sem tamanho. Claro que pra toda regra existe exceção, mas achá-las dentro de navio é como achar menina virgem em baile funk da comunidade, ou seja, encontrei poucos. As relações humanas são estranhas, amizade em si é uma coisa estranha. E se não fosse pelas outras cinquenta e nove nacionalidades a bordo, as rodas de cerveja se transformariam em stand-up comedy e drinking games, e é só! Não se consegue estabelecer uma conversa. Sabe essas coisas da gente sentar no barzinho pra conversar? Isso dificilmente acontece lá, há sempre de existir algum suporte. Eles simplesmente não sabem o que falar, o que trocar, sobre o que discutir. Ao invés disso, fazem milhões de piadas sem graça, uma atropelando a outra e até mesmo ultrapassando o limite de tempo da graça. E sim, também milhões de joguinhos sobre como ficar bêbado. Bom, Deus sabe o quanto eu já me desesperei por estar com esse tipo de gente e Deus sabe como eu já agradeci por existirem outros brasileiros, por existirem canadenses e logicamente, todos os meus chicanos.

Agora, como as relações humanas são extremamente estranhas, acho que o mercado teve que cobrir um buraco na existências dessas pessoas, fabricando os melhores produtos que se possa imaginar dentro da matéria abrangente chamada "qualquer coisa". Eu surto com compras lá, eu surto com as guloseimas, eu surto com aqueles super mercados que mais parecem um parque de diversão. Portanto hoje, resolvi fazer uma lista de coisas americanas que eu sinto falta:


Cold Stone Ice cream: eles misturam tudo o que você quiser no seu sorvete em cima de uma placa fria e colocam no cone, no copinho, waffle... É rezar muito, porque isso com certeza é coisa dos infernos!



Ginger ale: Refigerante à base de gengibre. Acaba com meu sono, ressaca e enjôo que é uma beleza, além de ser uma delícia.









Cherry Coke - Juntaram duas coisas que eu tenho paixão: coca-cola e cereja. A primeira vez que eu vi isso no super mercado de lá, fiquei desesperada e enfie um pack com 12 latinhas na minha mochila, que não durou nem uma semana na minha geladeira.




Five Guys: É estilo um Mc'Donalds com uma aparência bem mais fuleira, onde o sanduiche vem enrolado num papelzinho e as batatas fritas vem praticamente voando dentro do saco que lhe é entregue. Não rola bandeja e o copo do refri vem vazio, no maior estilo "você que se sirva, seu gordo maldito", e lógicamente é refil, como a maioria dos americanos. Apesar de ter levado um susto na primeira vez que eu fui, depois de ter dado a primeira mordida no meu super e gigantesco burger e queria morar lá pra sempre! Melhor lugar pra fast-food!





Starbucks: Todo mundo já sabe do que se trata. Agora tem até um aqui no Rio, mas pelo amor, não me despenco pra Botafogo por um café e além do mais, no dia que eu fui lá não achei meu amado Cinnamon Dolce Latte. Mas starbucks é uma benção na minha vida de navio, wifi de graça e um café muito do gostosinho.







Boo Berry: Até eu que não ligo pra cereal enlouqueci quando fui apresenteada a essa edição especial de Halloween.










5 (Elixir): Viciada em chiclete como sou, esse daí é o meu favorito, e não existe trident que barre e também é sugar free. Não tenho certeza, mas o sabor é a combinação de várias berries.






Bath and Body Works: O nome já diz tudo. São creminhos, perfumes, óleos... Nessa mesma linha a galera aqui do Brasil acho que só conhece Victoria Secrets, mas a qualidade desse aqui deixa aquelas modeletes de pernas quilométricas no chão. Por isso mesmo é bem mais caro.





Fast-food Chinês: No Brasil até lembro de uma época que rolavam uns, mas pelo menos eu não encontro mais... Lá nos EUA tem em qualquer praça de alimentação, é mega barato e se come até o dito cujo fazer bico.









Claire's: É a Saara das americanas, ou 25 de março se você for de São Paulo. São vários tipos de acessório. Vários mesmo, desde brincos a cantil de bolso pra bebidas com estampa de zebrinha. Deixa qualquer uma louca.






Isso pra não mencionar: os steaks do tamanho da própria vaca, payless shoes (aquela que quase te dão sapato de graça), Macy's (lembra da mesbla??? Bem melhor!), American Eagle (melhor jeans), Best Buy, Cinnamon rolls (docinhos delirantes), sour gummy candy warms (minhoquinha azeda)...

25 outubro, 2010

os desinteressados, mas muito interessantes


Era noite de festa, aquele tipo de noite que todas as meninas vão pra salão fazer unha, maquiagem, sobrancelha e penteados. Eu tava normal. De vestido novo e um brinco gigantesco, porque eu gosto deles assim. Mas estava desprovida de grandes estardalhaços visuais típicos da ocasião, tais como cabelos armados, unhas vermelhas e maquiagem Lady Gaga. Ok, estava bonitinha. Já tinha notado alguns olhares, mas sinceramente, meu copo de champagne merecia mais atenção que os demais. Lá pelas tantas, um pouco animadinha, me enfiei pela pista de dança. Um desgraçado com a namorada ao lado começou a me olhar, o que me obrigou a virar de costas e "niqui" eu virei, ele. Até que simpático, carismático, olhar bonito. Soube se aproximar. Esperou que eu fosse no bar, foi atrás, perguntou o que eu ia beber... Mas foi me dando um nervoso, eu queria sair dali. Agarrei o primeiro drink que o garçon fez e não sabia de quem era, pedi licença e voltei pra pista de dança. Ele se aproximou de novo, aí aquele papo: você mora aonde? você tem quantos anos? você faz o que? A última pergunta é crucial pra mim. CRUCIAL! Primeiro, porque sempre que eu falo que trabalho em cruzeiros, se a pessoa começar a perguntar muito eu já fico muito sem saco pra responder (Eu sei que é diferente, bacana e que viajo, mas acabou minha paciência com tais explicações). Segundo, se a pessoa faz uma coisa que eu ache desinteressante, eu me desinteresso na mesma proporção. E adivinha??? Foi exatamente isso que aconteceu! Num tal ponto que eu achei que seria melhor cuidar da bebum que estava no banheiro do que continuar a conversa. Foi então que eu vi minha salvação, uma pessoa magra (adoro gente magra), sentada no sofá que ficava na pista, brincando com uma criança, que com certeza já tinha notado meu incômodo com o outro sujeito. A gente nem precisou falar nada e de verdade, eu nem sei como isso aconteceu. Só sei que como grandes dois amigos concordamos que iríamos fumar! Falei pro indivíduo, "vou fumar, já volto". E Deus salve essa pessoa, tão mais interessante, tão mais divertido, tão mais eu. A gente ria sem parar e chegava a conclusões de como tinha sido nossa conversa mental pra finalizar naquela escapada maravilhosa para um cig. Parecia meu amigo de séculos, me chamava de louca perdida e estendia quantos cigarros eu pedisse. E foi um papo animado, o namorado dele chegou com um copo e a minha amiga chegou rindo e perguntando onde diabos eu tinha me metido. Os quatro riam e se jogavam por conversas muito animadas.


Conclusão: acho que fui ficando mais velha e percebi que mais vale um bom papo com uma pessoa interessante, do que um telefone de um outro normal, de um outro... Chega de outros! Mesmo que os interessantes não estejam nem um pouco interessados, não queriam me levar pro motel ou me ligar no dia seguinte pra marcar um chopp.

23 outubro, 2010

Dos abismos...

Por estar sem graça correu pra janela, e por estar ali percebeu quais vizinhos estavam acordados, também uma árvore que crescia de um telhado e porque o Cristo tava roxo. Queria olhar pra tudo, menos pra dentro do quarto, porque tava com vergonha. Aliás, queria olhar pra tudo, menos pra ela própria, talvez também porque tivesse vergonha... Era vazio, um abismo dentro de si mesma.
Se jogou na cama, a janela ainda escancarada, os ouvidos gostavam; mas ainda estava sem graça. –É preciso acabar com o abismo.
Foi isso então, achou que ele podia acabar com seus abismos, mas não. Ninguém pode acabar com eles, a não ser você mesmo. E nos dias de hoje tem muita gente por aí com verdadeiros desfiladeiros por dentro...
Ah, essa mania de achar! Achou que podia, achou que devia, achou bacana... Tenho que parar com os achismos, assim paro também com as minhas expectativas e paro de jogar expectativas em cima de tudo e todos. Enquanto isso, monto uma corda e brinco de bungee jumping no meu abismo particular!

22 outubro, 2010

Palazzo Podestà



Eu tenho meu lugar favorito no mundo e não, não tenho uma foto sequer dele. Tinha muito tempo que não lembrava de lá. Acordei com isso remoendo na cabeça, queria rever.

Conheci esse lugar por acaso, andando muito por Genova (surrealmente Itália), num dia de calor insuportável com as minhas havaianas e com o Matt. A rua que a gente andava ficava por perto da praça mais famosa de lá, onde tem um chafariz de proporções animalescas. Os prédios dessa rua imitavam o chafariz, tomavam quarteirões e eu perdia as contas com as janelas. Num desses prédios, a porta estava escancarada e acho que foi a beleza do prédio que pegou nosso olhar, mas sabe quando você passa, olha e volta? Foi isso, passei e voltei. -Espera! Olhando pra dentro do prédio lá no fundo de um corredor escuro, mas tão escuro de não se saber o que tem dentro, um foyer a céu aberto. Não se sabia se podia entrar ou não, mas foi magnético, os dois cegos por tudo aquilo. Atravessamos o corredor e no final dele, inesperadamente meu lugar favorito, a fonte. Uma fonte gigantesca, com deuses irados, com verde subindo pelas paredes, de um cinza estranho e um peixe dourado, só um. Sozinha, tão sozinha. Minha. Foi minha por aqueles minutos. Meu lugar. Meu lugar inesperado. Livre de turistas, de italianos, livre até dos pombos.

Não vou mentir, claro que eu tirei fotos, até porque eu não sou louca de perder aquilo. Não de propósito. O azar? Não tirei fotos na minha câmera e agora as coisas da vida simplesmente não permitem pedir as fotos de volta.

Dois anos depois, acordei ligando o computador ao mesmo tempo que colocava meu café com leite pra esquentar no microondas. Querendo achar o tal lugar, querendo ver de novo. Não lembrava nome de rua, do prédio, não lembrava de nada. Comecei a pesquisa por, em inglês, fonte Genova prédio, pensando que ia ser impossível achar. Aos tropeços cheguei ao blog de uma senhora inglesa que viaja com o marido pelo mundo. Ali, no meio de tantas fotos, “one hidden fountain”. Ela, a minha fonte! Com o nome da rua, porque era a mesma rua do hotel deles. Daí pra conseguir o nome do prédio foi um pulo. Digo mais, parei até no google maps pra ver “pessoalmente” o lugar por satélite.

Coordenadas: Via Garibaldi, Genova – Itália. Palazzo Podestà, construído em 1563, vendido para Baronesa de Podestà, hoje em posse do governo local.

Prazer em te conhecer, de novo!